segunda-feira, abril 30, 2007

Fascismo Nunca Mais

A respeito dos incidentes na Rua do Carmo, no final das manifestações do 25 de Abril, que começam agora a adquirir tonalidades muito negras (ver aqui), eis o que escrevi dia 27, noutro lado (as partes demasiado irrelevantes foram removidas e as identidades protegidas):
"No 25 de Abril descemos a Avenida(...) e depois de findo o desfile acompanhámos um grupo mais reduzido que se dirigia à António Maria Cardoso para exigir a musealização de pelo menos parte do antigo edifício da PIDE, a ser convertido num 'condomínio de luxo'. Quando chegámos ao alto do Chiado, um pouco atrasados(...), reparei que havia bastante gente em redor da estátua do Camões, de pé ou deitados na relva. Não sabendo nós exactamente onde se situaria a António Maria Cardoso (vergonha!), tivemos até algumas dúvidas sobre o caminho a seguir. Lá demos com o caminho, e estivemos a ouvir o Garcia Pereira discursar, narrando o que ali se tinha passado no 25 de Abril de 74. Não fazia ideia que ele ali tivesse estado. Aparentemente houve até uma rapariga, uma das vítimas das balas da PIDE, que lhe morreu nos braços. Quando a concentração acabou(...), e depois voltámos para cima, para o Chiado. Aí tomei realmente consciência de que um relvado tinha surgido no Largo de Camões, subitamente, em todo o espaço central. Fiquei particularmente surpreendido porque alí tínhamos passado dia 2/3/2007, e não me lembro de ter reparado em nada. As minhas tendências paranóicas sugeriram-me que se poderia tratar de uma tentativa de inviabilizar as manifestações que ali se costumam realizar; não parecia estar a funcionar, no entanto, pois continuava a estar uma boa quantidade de gente refastelada no relvado.
"Depois de a M. ter ido(...), voltámos para cima até à entrada do metro no topo do Chiado e regressámos a casa sem percalços. Não vimos qualquer sinal de distúrbios. Quando vínhamos no metro a M. viu as horas, e, embora já não me lembre exactamente que horas eram, penso que já passava das 7.
"Mais tarde, descobri na Internet que as pessoas no Largo de Camões eram o que restava de uma pequena manifestação, supostamente de cerca de 150 pessoas, contra 'o fascismo e o capitalismo', que terá partido às 18h da Praça de Figueira e terá acabado, como previsto, no Largo de Camões. A manifestação foi provavelmente marcada com o objectivo de atrair as pessoas que viriam a sair do desfile do 25 de Abril, que terminou, como invariavelmente acontece, no Rossio. Se eu tivesse sabido desta manifestação, é possível que também nós nela tivéssemos participado.
"Ora acontece que, a julgar pelo que li na Internet, uma parte das pessoas que vi no Largo de Camões terá resolvido dirigir-se à sede dos neo-nazis, na Rua da Prata, para lhes ir borrar as paredes. Ao descerem a Rua do Carmo, por volta das 19h30m, ter-se-ão envolvido em confrontos com a polícia, tendo sido agredidos violentamente. Disto nada sei, porque se deverá ter passado já depois de nós termos abandonado o local. O que me causa muita estranheza é que a PSP diz que os incidentes começaram às 18 horas, na Praça da Figueira; diz que ao longo do percurso até ao Camões os manifestante 'partiram montras', 'roubaram mercadorias de lojas' e 'pintaram grafittis nas paredes'; terão até agredido os agentes e atacado os carros-patrulha 'à pedrada'. A polícia teria então chamado o corpo de intervenção às 19h.
"Tudo isto é muito estranho: a menos que os manifestantes tenham seguido algum trajecto invulgar e muito pouco prático, deverão ter tomado quase exactamente o mesmo caminho que nós, Chiado acima. Não reparei em quaisquer sinais de distúrbios, danos, ou sequer desordem: apenas as muitas pessoas que, connosco, se dirigiam para a António Maria Cardoso. Lembro-me de reparar, ainda no Rossio, que uma carrinha azul da polícia abria caminho, com uma pressa que me pareceu injustificada e algo surpreendente, por entre a maior concentração de manifestantes, à nossa frente, que começava já a subir a Rua do Carmo. Seria isso? Lembro-me claramente de ver, já no alto do Chiado, pessoas deitadas descontraidamente na relva do Camões, como já disse: nada que indicasse qualquer espécie de confrontação. Massajando a mémoria, acho que consigo reconstituir a impressão de que o agrupamento de pessoas no Camões era constituído principalmente por jovens, nada mais.
"Quer-me parecer que esta é uma daquelas raras ocasiões em que podemos confirmar, por experiência própria, aquilo de que normalmente apenas suspeitamos, isto é, que nos mentem descaradamente. Neste sentido, é interessante que a PSP se refira às pessoas que se concentraram, cerca das 18 horas, na Praça da Figueira como 'extremistas com simbologia anarco-libertária'..."

Eu vou estar amanhã no 1º de Maio, no MayDay (às 13 horas, na Alameda D. Afonso Henriques) e na manifestação da CGTP (às 15, em frente ao estádio 1º de Maio). Não tenho medo de carecas.